A saga de um cidadão comum
neste vale de lágrimas e sonhos.


segunda-feira, 27 de julho de 2020

Meu Mundo Meu Quintal - MHC 000


MHC 000 - Memórias de um Homem Comum
MEU MUNDO. MEU QUINTAL.

Relembro o fascínio da vida desde quando nasci.
Bebês vinham por cegonhas. Ou pés de couve. Cheguei no novo hospital. Levado pelos pais. Só aos 12 anos descobri como. Fiquei chocado mas feliz. Já desconfiava e adorava a idéia de meninos e meninas brincar no porão. Descobrir diferenças. Mesmo que sejamos todos iguais.

Os mais velhos saiam sozinhos. Ganhavam merendeiras. Eram os últimos da fila mas primeiros a ter coisas próprias. Eu só podia ir para escola depois de crescer.  Foi duro esperar minha vez. Agora tenho preferência de idosos. Mas as filas dos outras sempre andam mais rápido.

Na escola todos seriam iguais. Mas alguns eram diferentes. Uns nem tinham merenda. Os xodós faziam dever direitinho. Outros ficavam de castigo. Eu queria aparecer.
Contei que minha tia estava na 3ª dentição. Debocharam. Disse que minha priminha parecia com a da capa da Manchete. Fessora me chamou de retardado. Respondi uma vez que a 2ª parte da missa seria “épistóla”. Fui vaiado em coro mas o padre parabenizou. Só corrigiu acento. Epístola.
Hoje alguns ainda pensam que sou besta. Será que sou? Só eu? Ou quem não é?

Vovô, viveu 106 anos. Menos 2 que ficou doente e não sabia de nada.
Falava com sotaque: - Brofessor. Senior inteligenti. Infrentei i resorvi tudu na vida. Só num sei una cosa. Mi respondi: Da ondi nós fem. Bra ondi nós fai. Cuma nós fica. - Acrescentava:
- As pessoas que Jesus ressuscitou não contaram como é ficar morto? Ninguém perguntou? Que povo burro. Deviam perguntar.
Vovô era prático. Não queria saber quem somos. - Como o filósofo grego, mas sim: - Como ficamos! Sempre estimulava todos com a frase: - Tuca brá frenti. - Vamos tocando então.

Hoje não sei se ficamos bem ou mal nesta vida.
Dizem que sou controverso. Uns me chamam de gênio. Outros idiota. O juiz duvidou de meus momentos de extrema necessidade. Com 40 reais para passar um mês. Família em dificuldade. Por causa de golpe de dois irmãos. Na casa de nossos avós. Na praça. De certo juiz pensa que vigia, porteiro, zelador são milionários. Mas este é outro causo para o futuro. Vou contar tudo.

Do alpendre, assisto missa pela janela. Espio a praça. Uns cumprimentam. Crianças brincam. Famílias se divertem. Tranqüilas. Apressados acordam tarde e correm atrás do prejuízo. Mendigos locais ou importados. Fazem michê no semáforo. Domingo, coroinhas e beatas dão volta no jardim para entrar. Antes era pelos fundos. Ou o fundo agora fica na porta da frente?
Durante a semana faço ginástica, tomo café. Vou para o Fundo de Quintal ver disputa de galinhas com a horta. Comemos sozinhos ou separados na Casa da Vovó. Hoje são 7 hóspedes parceiros, Queremos ser 70. Mais um zero? À noite reunião remota. Todos na net. Amigos, cientistas, hackers. Confinados. Normal. Enfrentamos enfim o que o mundo nos reserva.

Estas e muitas dúvidas me perseguem. Pessoas me procuram. Uns atrás de conselhos, outros de dinheiro. Negócios. Sei lá o que. Agora, com mais freqüência. Amigos, papos, estudo, trabalho, diversão... A pandemia tirou todos da zona de conforto. Queremos voltar ao que era. Mas passado não volta. Não existe mais. O novo mundo chegou.
Mas se é novo ou velho, continua normal. Prisioneiros da própria casa? Do mundo? Ou quintal.
Ou será como Hawking, aquele saudoso cientista tetraplégico dizia:
- Estou preso numa cadeira de rodas. Mas minha mente é livre.
E arrematava: - Enquanto houver humanidade há esperança.
Ele, que não acreditava em Deus, será que o encontrou? Meu avô também?
Felizmente a maioria vai se virando por aqui mesmo. Buscamos soluções físicas ou mentais.

Estou preso pelo destino na Casa da Vovó. Um casarão na praça de pequena cidade do interior, que não se conforma com a mediocridade e limitações. Sempre rompendo barreiras. Em festas ou velório. Sempre celebrando a vida ou o que vem depois. Onde famoso juiz de Haia dizia:
- Nas ruas desta pequena cidade aprendi os princípios da sociedade internacional.
- Neste casarão, da arquitetura, história, aos hábitos, tudo representa liberdade.

Desde a juventude escrevo memórias. Obrigatórias no colégio. Acostumei. Publico muitas.
Causos, reflexões, livros, relatórios técnicos, projetos. Desilusões. Sonhos. Esperança.
Cientistas de dados de todo o país, hackeiam e pedem para consolidar minha obra.
Outros querem minha história. Simples, sofrida, divertida, às vezes vitoriosa.
Pessoas importantes ou carentes criticam ou pedem ajuda. Outros querem me passar a perna.

Este textos são minha resposta ao mundo. Retomam Memórias de um Homem Comum.
O objetivo é compartilhar com você um pouco de esperança. Solidariedade. Alegria de viver.
Quem sabe solução. Para a reconquista do que talvez nunca tenha sido normal.
Pois nosso mundo hoje cabe dentro do quintal da casa de nossos avós. 
É um Recanto Feliz.
O Véio.

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4 comentários:

  1. Que inveja me dá ler um texto tão bem escrito...que saudades me dá de minha infância. Parabéns ao "véio"!

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  2. Redige bem, com fluência. Antepassados importantes. Tem muitos amigos. Valoriza a família. É boa pessoa. Mão aberta, por isso, às vezes, pessoas abusam.

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